O causo da onça
por José
Valizi (publicado em 12/01/2015)
Você pode até não
acreditar, mas esta história aconteceu de verdade...
Muitas
décadas atrás, em Ituverava-SP, havia três amigos que
gostavam muito de pescar num rio que passava a pouquíssimos quilômetros da cidade.
E
naquela época a cidade era praticamente rodeada pela
mata, que ainda existia em abundância.
A pescaria
era a oportunidade que eles tinham para desfrutarem de momentos de descontração e descanso,
em contato com a natureza. E nessas ocasiões, não
poderiam faltar também um bom churrasco e muita cachaça.
Um dos amigos sempre levava para a pescaria uma
espingarda cartucheira, um facão e um cachorro grande.
Certo dia, levaram
consigo mais um amigo, que por sinal era muito medroso.
Chegando lá,
disseram ao amigo medroso que naquele lugar tinha muita
onça, tamanduá e outros bichos. E que seria bom alguém
ir juntar lenha para fazer uma fogueira à noite, para se
protegerem, porque a onça tinha medo de fogo e não iria
se aproximar deles. Então, os três amigos foram pescar, enquanto o
medroso preferiu ficar quebrando a lenha. E o medo dele
era tamanho que ele quebrou muita lenha, pois o que ele
menos queria era que a fogueira se apagasse durante a
noite, por falta de
lenha.
Quando a
noite chegou, todos ficaram em volta da fogueira,
comendo alguma coisa e bebendo muita pinga. Já tarde da
noite, depois de muita bebedeira,
os três amigos acabaram dormindo no próprio chão, ao
redor da fogueira. Mas o medroso não conseguia dormir de
tanto medo, que era ainda mais aguçado pelos barulhos que vinham da mata. E
ficava só botando lenha e mais lenha na fogueira. Quando
já era quase madrugada, e após passar a noite toda em
claro, o sono bateu forte e ele, não resistindo ao
cansaço, deitou-se entre os companheiros que já estavam
dormindo, e caiu no sono.
Certa
hora, o medroso sonhou que a onça estava atacando eles.
Acordou assustado e gritando: − A onça, a onça! Os outros
amigos se assustaram com a gritaria e acordaram, mas
como a lenha que tinha sido juntada era fina, havia
queimado-se muito rápido e a fogueira já tinha se
apagado; estava tudo escuro; ninguém podia enxergar
nada!
Um dos
amigos, que dormia sempre com a espingarda ao lado,
levou a mão para apanhá-la. Só que
durante a noite, o cachorro dele tinha se deitado justamente
em cima da espingarda. Então, ao tentar pegar a arma no
escuro, acabou pegando o rabo do cachorro. Assustado,
ele disse: − É a onça mesmo! Peguei no rabo dela!
Nesse instante, todos saíram correndo no escuro. Três
dos amigos acabaram pegando o mesmo rumo, em direção à
cidade, enquanto o medroso foi numa direção diferente,
rumo a um brejão. Foi indo até que ele se atolou até a
cintura e não podia mais sair do lugar, e começou a
gritar por socorro.
Já com o dia
clareando, os três amigos, que vieram rasgando a mata no
peito, conseguiram chegar à cidade e notaram a
falta do amigo medroso. Preocupados, foram procurar por
ele em sua
casa, e não o encontraram. Percebendo que o amigo havia
se perdido na mata e poderia estar em perigo, foram até
a delegacia de polícia pedirem ajuda. O delegado, após ouvir a história, reuniu
alguns policiais, entraram na
viatura (um jipe) e já estavam
prestes a sair à procura do desaparecido quando, de
repente, chega à delegacia um vaqueiro montado a cavalo
e dizendo que
estava passando perto do varjão, lá pelas bandas onde ele morava, e escutou uma voz baixinha pedindo por
socorro. E que ele apeou do cavalo e até tentou ir lá
ver o que era, mas não conseguiu porque o acesso era
muito difícil.
Concluindo que
a pessoa que o vaqueiro ouvira pedindo por socorro poderia ser o pescador
desaparecido, o delegado e os policiais saíram em
direção ao varjão, numa missão de resgate. Chegando ao
local, o vaqueiro indicou o rumo, e um policial foi à
frente rompendo devagarzinho o caminho de difícil acesso.
Depois de muito custo, o policial avistou de longe o que
parecia ser o desaparecido. Porém, o pescador medroso estava
atolado no brejo, e não era possível ver seu corpo da
cintura para baixo. O policial disse:
−
Doutor delegado, avistei o homem. O delegado então
perguntou: − Ele está vivo? O
policial respondeu: − Doutor, vivo ele está, porque
está acenando com o braço e gritando socorro baixinho. Mas que a
onça comeu ele da cintura para baixo, comeu!
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